domingo, 30 de junho de 2019

Multidão

Nas noites de sexta ...
Os bares e inferninhos fervem.
Um fervor amistoso de gente interessada em gente ou coisas proibidas ou coisas próprias dos inferninhos.
Enquanto você está acompanhando a multidão passa ser um aglomerado de pessoas interessantes e interessadas nas mesmas coisas.
Enquanto sozinho, absorto e um tanto alienado do mundo da multidão... É só mais um sozinho. Todos são quase uma coisa só, um aglomerado de gente em profusão.
As festas e os inferninhos vibram de gente sozinhas cheias de solidão, que resplandece com as multidões multifacetada de caras e bocas apaixonadas por multidão.
Nas multidões os sozinhos as vezes se sentem multidão ou encontram outros sozinhos e deixam de estar só. 
As multidões guardam solidões invisíveis.
Os solitários não guardam multidão alguma.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Conta gotas


PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM, PLIM...

20 gotas.
É o que diz na bula.
Será que vai fazer efeito? Quanto tempo vai levar para passar a dor?
Será que em 30 minutos estou legal?
Vou tomar mais água, esse negocio é amargo demais.
Vou me deitar.

Valéria deita no sofá da sala, com dor ainda após ter tomado mais uma dose de analgésico em gotas.
Tem a esperança de a dor passar em breve.
Já deitada, com os olhos cerrados, a dor ainda atormenta e pensa e sonha que a tal dor irá logo passar.
Por alguns segundos até cochila, mas a dor tem pontadas e logo de olhos abertos espia o mundo e chora.

Pensa novamente em que a dor tem que passar logo.
Volta a fechar os olhos e tentar dormir. Desta vez com algum sucesso, dorme.
Depois de 1h, Valéria desperta, observa a casa e pergunta o que se passou consigo e percebe que a dor ainda estava ali no mesmo lugar antes do breve sono, um pouco menor mais ainda ali.
Levanta-se do sofá, caminha até a cozinha e revira os potinhos de remédios que tem dentro do armário procurando algo mais forte para aliviar a dor de vez.
Encontra numa cartela um comprimido branco que diz 1g, o que a convence que esse poderia ser o mais potente que ela teria em casa. Retira do blister e coloca –o na boca e pega uma garrafa de água na geladeira e toma a água sobre o comprimido. Engole.
Respira fundo umas duas vezes ainda em pé ao lado da geladeira. Volta para sala e senta-se no sofá e chora.
Na cabeça de Valeria o tempo não passa assim como a dor. Eles pararam em algum momento antes do vazio que consome o peito se instaurar de vez.
A casa vazia, todos os barulhos são ensurdecedores, assim como o pingar de uma torneira no banheiro:
Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim, Plim...
E o tic-tac do relógio: tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac…

Só fazia piorar a dor. Uma dor que já não era só física era na alma, não teria remédio que tratasse aquela dor da solidão.

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