sábado, 4 de fevereiro de 2023

Carta a tia Penha II

Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2023.

Sábado.

Olá Tia Penha!

Fiquei aguardando muito uma resposta sua a minha primeira carta. Mas acho que a senhora nem a leu. Ou se leu a ignorou por completo. 
Tudo bem, acontece. Nem todos são ligados em tecnologias. Eu mesma não sei muito, recorro aos amigos pra me ajudar com as novidades. 
Já se passaram 13 anos. 
Quanta coisa aconteceu nesse tempo. Eu me formei em Geografia e consequentemente em professora de Geografia também - acho que ficará feliz em saber disso - pois lembro muito bem algumas vezes que mencionou em querer que eu fosse professora... Fato que não era o meu sonho ou projeto pessoal; foi o que a vida me permitiu. Nem sempre fazemos o que queremos ou sonhamos.
As vezes somos empurrados pela vida para calçar o quer der e não que se quer.
Espero que estejas bem, na medida do possível. Com saúde tudo se vence.
Nesses treze anos vivi algumas aventuras e outras desventuras - nem todas muito boas e nem todas tão ruins assim. 
Ganhei mais uma cicatriz na canela, agora na perna direita, graças a um assalto em 2015. 
Ainda conto histórias sobre as minhas marcas e não tenho vergonha das manchas que tenho pelo corpo. 
Soube a pouco tempo que ficastes viúva. Meus pêsames. 
Este era o ultimo laço que tínhamos e ele foi rompido. 
Não sei se o tempo foi generoso com a senhora ou ingrato - não sei como está a sua memoria e como tem a preservado. 
Lembro que a senhora tinha hábito de escrever cartas para os politicos - prefeito, governador e presidente - ainda mantem esse hábito? 
Esses últimos anos os tempos foram áridos para politica e não sei qual partido tomou.
Eu continuo observando a vida e escrevendo - e escrevendo muito. Quem sabe um dia público um livro?
Queria noticias suas. 
Quem sabe desta vez me respondes? 
Meu assunto predileto para escrever é o Tempo. E lembro que esse passa ligeiro sobre nossas cabeças e sob nossos pés. Lembro todos os dias que dessa vida nada se leva - além das nossas emoções - talvez nem isso se leve - talvez só se leva a curta memória do que viveu ... de resto - resto. 
Tem gente que insiste em achar que vai levar algo desse mundo material. Padre Antônio Vieira ja dizia do pó viemos ao pó retornaremos. 
Somos tão breves . 
Breves. 
Se nada mais souber - sei que este último laço se desfez de vez - e nada que vivemos um dia será mais rememorado. 
Não tenho magoas ou frustrações - só certeza da versão da história a ser contada será a que ficar registrada. 

Abraços e cuide-se 

somos pó com vento 

e vivemos na tempestade. 

Sua sobrinha distante.   

2023 Outro tempo

 Depois de quase um ano de ausência do blog - não foi por falta de escrita - foi por preguiça mesmo!

Tenho escrito direto no facebook. Na minha rede social... quase anti-social... Escrevo quase que diariamente.

Textos que começam como um diário. Com o dia e o dia da semana , como um registro do tempo, como uma caixa de lembranças.

Alguns leem, outros só visualizam. Ler é pra poucos. Requer tempo. Requer paciência. Em tempos de tiktok o legal são videos rápidos e ligeiros que não falam nada com nada e dizem menos ainda sobre quem os faz .... Com raras exceções que tem conteúdo e mensagem e ainda de quebra fala algo sobre quem diz... 

Eu que sou refém do tempo e preso muito pelas palavras, mesmo essas mal redigidas. Eu insisto em escrever como terapia, como grito, como fala para o vento - sobre o que a garganta nem ousa falar.

Insisto

Pela finitude da vida 

Pela brevidade da flor

Pela beleza circunscrita

Pela raridade em se expor ....

Aqui não é meu rosto, meu corpo, meus olhos, meus dedos ...

Aqui é o meu espirito 

um pouco da minha alma.

um tanto da minha mente veloz - mais veloz que as palavras escritas aqui ... 

quantos foram os versos que fiz na minha cabeça e nem o teclado alcançou....

Eu me faço em palavras 

me conjugo em versos

Me transfiro em frases 

e me conto em contos 

nas entrelinhas da vida. 


Insisto num tema:

TEMPO

nenhum outro me faz tão sagaz - quanto esse do tic-tac... dos minutos, horas, periodos, dias, semanas, meses , semestres e anos .... 

Esse elemento que não toco, não carrego no bolso, não tenho pra vender ou doar, não julgo ou brigo tanto - pois vivo - vivo as vezes sem  pensar . 

O TEMPO. 

eu preso e desprezo ao mesmo tempo de acordo com as rodas da vida.

Por hora 

eu quero mais tempo- o dia tem sido muito curto pra mim - eu quero o dia de 48h - uma manhã de 16h pelo menos pra poder olhar a janela e ver o dia - acordar sem correr - sem atropelar e ja chegar a tarde --- que quando vejo já são 18h.. e o dia começa findar ... e a noite eu peço pra ser lenta pra refrescar as ideias para nova jornada que já parece começar ... 

Se de um lado rogo por tempo 

penso que não há tempo sem chão - sem caminho - sem via - sem lugar 

Outros lugares preciso pra respirar . me acalentar 

por hj é só .

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