quarta-feira, 7 de outubro de 2020

De repente 15...

 No meio desta pandemia - com varias crises de ansiedade, precisei voltar as sessões com a psicologa.
Na ultima sessão ela pediu para eu desenhar algo que me lembrasse com 3 anos, com 15 e com 30 anos.

O fato que não que tem muita coisa eu me lembre de marcante motivacional ou não aos 15 anos. 

Meus 15 anos eu tive uma festa que pra muitos era festa de velório. Fazia 1 semana que meu pai havia falecido e ficou um ranço de algumas pessoas a sensação da perda do meu pai. Na festa teve tudo bolo, salgados, doces, música, dança e enfeites em geral. Mas para alguns aquilo nem era pra ocorrer. Eu entendi que aquilo era a minha festa as avessas - a festa do enterro. 
Tudo que ocorreu depois desta festa até os meus 16 anos foram um sucessão de coisas muito ata baloadas, confusas, sem sentido. 
Morava numa casa nos fundos de terreno no subúrbio, uma casa alugada. Não tínhamos mais como manter o aluguel da casa - quem pagava era o meu pai. Para onde ir ? A minha mãe trabalhava de empregada domestica numa casa 3 dias da semana e o salario dela não dava para pagar o aluguel de uma casa e nos manter (ou será que daria ?)  Fato que falta chão e teto.
Fomos morar na casa minha avó paterna - mãe de meu pai. Minha avó tinha mal de Alzheimer, na época os filhos dela desconheciam a doença e negavam que ela estivesse doente da cabeça. Mas isso foi um preço alto a se conviver. A minha mãe e minha avó nunca se deram bem e qualquer coisa isso seria motivo de briga. 
Essa vinda para essa casa foi num trancos e barrancos - uma novela a parte. Nessa chegada colocamos tudo que tínhamos numa casa inteira dentro de único quarto - geladeira, fogão, maquina de costura, televisão, armário, cama, estante, livros e nos. Nem sei como dormíamos neste quarto, não me lembro mais. Sei que tínhamos que caber nos que nos cabia . Um universo dentro do universo da minha avó doente que ainda acredita no marido vivo, já morto a mais de 3 anos. Meu pai morto sim isso ela lembrava.
Eu fui fazer o primeiro ano do ensino médio no inicio do ano seguinte, sob essas condições. Fui cursar um curso de técnico de contabilidade, na esperança de arrumar um estagio ou emprego logo e ajudar a minha mãe e eu sair do que nos cabia. As aulas não eram regulares, tínhamos aula dia sim dia não. Pode parecer ruim, mas aquilo era bom pra mim. Me dava tempo para ajudar a cuidar da minha avó e impedir dela jogar meus livros pela janela ou doar aos vizinhos - feitos que ela fazia de vez em quando. 
A minha mãe não podia se dar o luxo de parar de trabalhar. A pensão do meu pai não saia e a situação financeira começou a ficar pior com a morte da senhora que cuidava da minha avó que meu tio tinha contratado. Ele também parou de pagar as contas do apartamento e disse que todas as despesas agora eram nossas, mas ele continuava a receber os proventos da minha avó.
Ganhei admiradores e pretendentes a namorados e recusei a todos. Como se envolver com alguém quando sua vida ja ta envolvida de tanta loucura? 
Só queria sobreviver. 
Antes de fechar um ano a minha mãe consegui receber a pensão dela e os atrasados. Aquilo foi um suspiro profundo, mas ainda não dava pra sair daquilo que nos cabia. 
Quando estava pra completar 16 anos eu pedi uma festa de aniversario para minha mãe, desta vez com cara de festa de verdade com meus amigos e os novos amigos, num espaço que me abraçava e me abraça ate hoje, com musica ao vivo, salgadinhos e bolo combinando com o meu vestido. 
Achava que aquilo seria só uma fase. 
Estava comemorando a sobrevivência do temporal que tinha acontecido na minha vida.
Os anos seguintes foram quase repetições do primeiro ano, com dose mais homeopáticas. A doença da minha avó foi levando sua consciência embora e deixando um tanto de dor e frustração.
Quando ela faleceu, tinha 22 anos de idade e de repente voltei a ter a minha liberdade de volta ou o que acreditava que era liberdade e me dei um voucher para voltar a ter 15 anos de novo e me sentir adolescente como se pudesse apagar tudo que havia acontecido até ali se possível; mas não é bem assim que acontece e isso tem um custo muito alto na vida.
E de repente 15 era como me sentia naquele tempo aos 22 anos, falando o que passava na cabeça, agindo com a inocência e a vitalidade juvenil. Quem entendia? 
Aos 24 já não dava mais pra sustentar essa ilusão e voltar a ter a idade da carteira era mais que necessária - outro tempo.   
Hoje neste tempo resoluto pandêmico que brigamos para não revirar o passado - as vezes eles voltam; com 41 dizem que estamos correndo para cumprir o que não fizemos ate agora, talvez sim e talvez não. 
O meu vazio existencial não é pelo que eu não fiz, mas aquilo que sonhei realizar e não realizei e os tanto sonhos sonhados guardados em gavetas cheias de poeira e os outras tantos que tive que abandonar por falta de créditos ... 
Não quero voltar a ter 15, 20 ou 30 anos - tenho a idade que tenho com espirito de menina pois fiz um esforço sobre humano em outros tempo para sobreviver e para acreditar que posso ainda melhorar como pessoa. 


obs.: Não há mágoas do tempo ou raiva , mas a sensação de que naquele momento ao 15 anos tive que não ser eu, havia outras prioridades que as frivolidades de uma adolescente. Não deixei de ser na época, mas havia muita cobrança para ter outras atitudes e outras responsabilidades.

 
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