segunda-feira, 19 de maio de 2008

Meu Recanto

Do alto da varanda da casa da minha avó, lá em Três Coroas, se via a estrada que levava gente a ate a Serra Gaúcha ou a gente de volta pra casa, caminho que passa por Porto alegre.
A minha avó sabia todos os horários dos ônibus que viam de Porto alegre e os ficava cantando junto ao som do radio que “pegava” varias freqüências de ondas. Era assim que a noticia chegava lá.
Bem o vizinho mais perto ficava a uns 15 minutos andando na estrada de terra que passava no vilarejo de Moreira, que abriga um orfanato, um cemitério e uma igreja, todos da comunidade Luterana do Brasil.
Os rostos das pessoas sempre me pareciam familiar, era como estivesse na minha casa. O sitio era frondoso coberto por arvores frutíferas, com gado, galinha, pato, marreco, porco, cavalo, tinha o rio, a cachoeirinha, a horta e um monte de araucárias onde ficava apreciando seus espinhos e sua bola de sementes – o pinhão.
Os meus verões e alguns invernos foram nesta colina, olhando o vai e vem do ônibus.
De noite recebia a visita de inúmeros vaga-lumes e grilos que faziam uma festa particular junto à varanda da casa. Tinha vezes que ficava com medo e outras literalmente me desligava e me sentia inerte aquela paisagem –era parte dela. O cheiro da relva entrava em meus pulmões e limpava o medo e deixa um traço de saudade, era a certeza que dentro de poucos dias eu não estaria mais ali.
Como diria meu pai era o minuano fazendo a curva no alto da serra fazendo a gente se juntar ao fogão a lenha e zelar junto as estrelas pois estas não mudam de lugar.
O cheiro daquela terra ainda é uma lembrança do lugar onde sonhei e muito plantar a minha casa e ver a minha família crescer.
Hoje o terreno esta a venda o meu sonho perdido no meio dos papeis, a contra gosto. E como um pedaço de mim morto com o fim do sitio da vovó Alice.
Os meus primos aproveitaram aquilo mais que eu e como nunca ficaram longe de tudo que se ama nunca sentiram e nem sentiram a falta que aquela casa me traz.
Foi do alto da colina, de olho aberto pra aquela estrada que me indaguei sobre o porque ali esta se produzindo sapato, pois era o único assunto q falava na radio , era os que meus primos contavam. Não havia muita cosia por ali, a cidade era pequena quase todos se conheciam. Quase todos de origem alemã, sua caras, suas falas seu jeitos, era um universo completamente novo pra mim – carioca, praia, montanha, multietnico,muitas caras muitas cores – mesmo que todo ano aquilo se repetissem sempre era novo.
Foi ali, no meio do quase nada que achei que a indústria um dia poderia dar espaço ao turismo, os verdes, a beleza, ao interior, ao agrobussines e a tudo que aquele povo tinha de melhor pra oferecer que era a sua historia de vida.
Hoje mais de 10 anos depois que meu pai partiu e que minha avó foi fazer companhia a ele, sinto mais do que nunca falta do meu recanto.
O núcleo urbano de Três Coroas é um lugar estranho... há pouco o que fazer, o que alimenta aquele lugar são as festas que os mais velhos preferem não ir e os bailes kerbes ....
Mas ainda assim sonho como a minha casa no pé da serra gaúcha com direito a chocolate quente vinho e um bom chimarrão.
Se um dia me torno gaúcha, acho que não tem horas que da vontade de correr de braços abertos na beira da praia de encontro ao mar e me sentir parte do mundo Rio de Janeiro de ser.

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